A estação de comboios é fria, e tenho demasiado tempo para gastar. Bebe-se um cafezinho, pega-se num livro. Espera-se que o tempo corra depressa, deixe um rasto vago, próprio de não se pensar muito. Até pensar que com a casa de banho ali ao pé, dava-se bem um pulinho ao único sitio do mundo onde todos são iguais.
Como tudo o resto, uns são mais iguais do que outros. Ou seja, exigir pagamento para um gajo ter o direito de poder cagar em paz é, simultaneamente, a forma de exercício de poder absoluta e a mais revoltante. A insubmissão (intelectual ou armada, consoante a forca de vontade que se consegue possuir) é incaracterística do momento e o protesto inexequível. Deixar uma poia estrategicamente posicionada é a opção que menos se coaduna com a brisa fria que se emana do chão gelado em mármore, e protestar contra a situação tem precisamente a duração do controlo que um gajo tem sobre o seu próprio esfincter (que convenhamos,nunca é grande coisa).
Deixo o mote para a revolução armada contra os poderes estabelecidos, pelo direito a cagar num sitio quentinho e seco.
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