09 agosto 2009

diarios de um emigrante (2)

26/07 Rødbyhavn

Tenho agora algum tempo livre à espera do ferry para a Alemanha, por isso vou-vos escrever um bocado sobre o meu dia de ontem.
Acordei perto das 9h em Jönköping, Suécia, na casa de uma couchsurfer bielorrussa. Tomei banho e pus-me a caminho. Passei pelo super-mercado para comprar umas fatias de queijo e dirigi-me à auto-estrada para o sul. Esperei aí uma hora, e parou um gajo grandalhão, careca e tatuado, que viajava com o filho bebé, e disse que era camionista numa empresa norueguesa e que estava de férias, para as quais tinha recebido um subsídio de aproximadamente 8500 euros. Deixou-me numa saída, uns 40km mais à frente, porque não ía na mesma direcção que eu. Recebi uma mensagem da camilla a dizer entre outras coisas que estava a atravessar de táxi a fronteira entre o Líbano e a Síria. Curiosamente o carro que parou a seguir foi de um iraquiano que não falava inglês e cujo sueco era pior que o meu. Não dava para conversar muito, então fomos o caminho até Malmö a ouvir música do Líbano e da Síria.
Não planeava entrar em Malmö, mas à distância vi o turning torso do calatrava, então lá fiquei no centro, onde o iraquiano já tinha decidido que me ia deixar de qualquer maneira, porque para Copenhaga só podia ir de comboio, segundo ele, já que os suecos nunca dão boleia, segundo ele. Fui até ao posto de turismo pedir um mapa, e a direcção do tal edifício. Quando me dirigia para lá passei num skate park, onde estava a haver uma competição internacional. Sentei-me um bocado a ver, mas quase todos os concorrentes caíam antes de chegar ao fim da prova.
Almocei junto ao turning torso e mandei uma mensagem ao pedro. Passei por um pontão com vista para a Dinamarca e para a ponte. Junto ao pontão estava um palco dentro de água, com bancadas em anfiteatro voltadas para o "mar", ontem estavam a fazer o soundcheck com uma cantora de ópera. Atravessei a cidade, uns 3/4 km em direcção à auto-estrada, até parar um sueco que ia para Copenhaga, porque trabalhava lá.
Fiquei impressionado quando descobri que a ponte desce para dentro de água e se transforma em túnel, antes de entrar na Dinamarca. O senhor deixou-me na rådhuspladsen onde se estava a preparar uma festa qualquer. Sentei-me um bocado e fui até à estação de comboios procurar um posto de turismo, mas não o encontrei. Decidi ligar à henriette, mas o telefone estava sem rede. Pensei "olha, afinal não tenho roaming". Liguei de uma cabine telefónica com umas moedas dinamarquesas que o iraquiano me tinha dado e a Henriette disse-me que autocarro apanhar para a casa dela. Andei 20 minutos à procura de um multibanco e apanhei o autocarro. Quando chegámos a casa, estavam a preparar o jantar. Moram lá 6 pessoas, mas não conheci todas, só 3 miúdas e uns amigos e namorados. Descobri que a festa que tinha visto antes era de um festival gay, lésbico, transsexual, etc, muito conhecido, que atrai gente de todo o mundo. Fui à net tentar lembrar-me de maneiras de carregar o telemóvel português mas a rede do suéco voltou.
Jantei com eles, tofu com uma salada de beterraba e batatas, a maioria deles tentou manter a conversa em inglês e o meu copo com vinho, o que soube bem. Para me mostrar agradecido, lavei a louça toda enquanto se ia conversando na cozinha. O pessoal resolveu sair, então fui com eles, todos de bicicleta à chuva. Duas das raparigas pararam antes dos outros para ir dar um mergulho no canal. Fui com elas, mas não para nadar, porque apesar de ter parado de chover entretanto, era de noite e estava vento e frio. Quando olhámos para a água, quis saltar, então comecei-me a despir até ficar de boxers mas elas despiram-se todas. Até estava boa a água, mas quando saímos estava frio, então as duas dinamarquesas despidas começaram a correr para a frente e para trás, para aquecer e secar.
Vestimo-nos e fomos ter com os outros, ao que me disseram ser um festival queer, mais alternativo e local, não relacionado com o outro já mencionado, aparentemente muito mais conhecido. Houve uma festa todos os dias da semana e ontém era o último dia, a "sex party". Não vou entrar em pormenores, mas vi gente muita estranha (e eu tenho visto gente estranha nos últimos tempos). Pedi uma cerveja e fiquei à porta de uma sala chamada "white room", com regras à entrada. Percebi que eram várias salas para entrar e praticar todo o tipo de actividades relacionadas com sexo, desde trocar carícias até BDSM. Como li que não havia problema em entrar só para observar (até porque voyerismo fazia parte das actividades), resolvi entrar, mas fui parado à entrada, para deixar a cerveja, dizer a "safe word" e assinar uma cartolina enorme a confirmar que tinha lido as regras. Resolvi acabar de beber a cerveja e voltar mais tarde, mas a henriette, que está grávida, disse que se estava a sentir mal e ia para casa, então fui com ela.
A caminho de casa a corrente da bicicleta soltou-se no meio de um cruzamento, então caguei as minhas únicas calças a pô-la no sítio.
Quando cheguei à cama, ainda abri o livro que trouxe, li o prefácio e adormeci.

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